Atualmente, principalmente após o aumento da disponibilidade de produtos livres de lactose, é comum que pacientes procurem o consultório médico para serem avaliados quanto à uma possível intolerância à lactose. Outros chegam assustados com medo da temida “alergia”, o que é infrequente em adultos. É necessário esclarecer melhor o que é a intolerância à lactose, diferenciá-la da alergia ao leite e também qual o manejo mais adequado para estes pacientes.
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O que é intolerância à lactose e qual a diferença para alergia ao leite?
A lactose é um açúcar encontrado em leites e laticínios; é uma molécula grande que precisa ser quebrada em duas outras para que o organismo consiga absorve-la, a glicose e galactose. Este papel de separação é realizado pela enzima lactase, que se encontra no intestino delgado. A deficiência desta enzima leva a persistência da molécula grande de lactose no interior do intestino e que será levada posteriormente até o cólon (intestino grosso) pelos movimentos propulsivos. Nesta região, a lactose exercerá função osmolar (puxando água para dentro do intestino) e também será fermentada pela flora bacteriana com a formação de excesso de gás. Será exposto abaixo o que estes efeitos geram no indivíduo intolerante.
O que diferencia este problema das alergias é que estas são comumente causadas por proteínas e não açucares, então existe a alergia à proteína do leite. Os sintomas que podem variar da simples irritação após o contato do trato gastrointestinal com o leite, até uma possível reação anafilática grave. Como a alergia à proteína do leite é infreqüente no adulto, ela não será abordada neste artigo .
Quais são as principais causas da deficiência de lactase?
O ser humano é o único animal a manter o consumo de leite após a fase de amamentação, todavia, com o envelhecimento, a produção desta enzima diminui. Alguns grupos étnicos são mais propensos à deficiência com ocorrência em até 100% dos asiáticos, 60 a 80 % dos negros e 50 a 80 % dos latinos e menor frequência em europeus do norte (cerca de 15%). No Brasil, como a população é miscigenada, o índice de intolerância à lactose é estimado em aproximadamente 50%.
Em alguns pacientes a falta de lactase é induzida por doenças que acometem o trato gastrointestinal, medicamentos ou cirurgias gastrointestinais, seguem alguns exemplos:
•Doença celíaca (relacionada ao consumo de glúten)
•Doença de Crohn (doença inflamatória intestinal)
•Período após diarreias agudas
•Quimioterapia
•AIDS
O que o paciente sente quando possui intolerância à lactose?
A presença da lactose no interior do intestino, por si só puxa água para as fezes e dá origem a fezes líquidas e diarréia. A fermentação da lactose pelas bactérias produz gases e fezes ácidas que geram mal estar, flatulência, distensão abdominal, diarréia e assaduras. Estes sintomas demoram entre 30 minutos e duas horas após a ingestão do alimento para aparecerem. Como a produção da lactase pode estar deficiente, todavia não abolida, nem todo paciente apresenta a mesma intensidade dos sintomas e uma quantidade semelhante de lactose desencadear mal estar em um paciente e não em outro.
Como é feito o diagnóstico?
Os sintomas típicos, após ingestão de leite e derivados, geralmente permitem o diagnóstico clínico, mas existem exames que documentam esta deficiência, sendo os principais:
Teste de tolerância à lactose
Como o indivíduo intolerante não consegue digerir a lactose, sua molécula não é absorvida em forma de glicose e galactose, então este teste mede a glicose sanguínea do paciente após a ingestão de quantidade conhecida de lactose. Se a glicose no sangue (glicemia) não elevar até um nível esperado, ele possui deficiência de lactase.
Teste respiratório para pesquisa de hidrogênio expirado
A quantidade de hidrogênio produzido por pacientes intolerantes após a ingestão da lactose é alta. Este gás é absorvido pelo sangue e eliminado pelos pulmões e dosado por aparelhos específicos.
Existe tratamento para o portador de intolerância à lactose?
Sim, entretanto a maioria dos pacientes não necessita de medicamentos. A redução do consumo de leite e derivados é a principal e melhor conduta.
O uso de alimentos sem lactose (leites, queijos) também é adequado, todavia é importante saber que alguns alimentos tem apenas a redução da quantidade de lactose e podem induzir sintomas. É muito importante que o consumidor observe as informações nutricionais disponíveis nos rótulos dos alimentos para se informar sobre a quantidade de lactose no produto.
Há disponibilidade de lactase comercializada e que pode ser usada quando o portador de deficiência deseja ingerir produtos com lactose. Pergunte ao seu médico como e quando a enzima é indicada.
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