Como nós trabalhamos em uma clínica referência em tratamento de fístulas perianais, era de se esperar que nos deparássemos com uma frequência alta de diagnósticos de abscessos perianais.
Entretanto, como o abscesso é, na maioria das vezes, tratado em serviços de urgências e muitos pacientes não conseguem uma consulta imediata, atendemos mais a consequência desse problema, que é justamente a fístula.
Relembre o que são abscessos perianais
Com relação ao abscesso, a infecção de uma glândula anal obstruída dá origem à formação de um acúmulo de pus, que vai crescendo e causa:
Dor;
Calor local;
Vermelhidão na nádega;
Febre em alguns casos.
Para resolver o problema, a secreção purulenta infectada deve ser extraída por meio de uma drenagem espontânea ou, de preferência, cirúrgica.
Em caso de persistência do processo infeccioso, sem a adequada abordagem, pode haver a disseminação de bactérias, causando uma morte de estruturas locais – ou seja, gangrena perineal –, o que pode levar à morte.
Relembre a formação das fístulas perianais
Infelizmente, apesar de a drenagem ser necessária para tratar abscessos perianais, ela pode levar à formação de uma comunicação entre o interior do canal anal (local do orifício da glândula e ponto inicial da infecção) e a pele da região ao redor do ânus.
Em outras palavras, essa comunicação tem um aspecto semelhante a um pequeno tubo debaixo da pele e é chamada fístula.
Os principais sintomas locais são:
Desconforto;
Drenagem de líquido fétido, que mancha a roupa íntima;
Inflamações frequentes.
Além disso, de acordo com o trajeto percorrido e o acometimento da musculatura dos esfíncteres, o tratamento das fístulas perianais, que consiste em cirurgias corretivas, nem sempre é simples.
Como abscessos podem evoluir para fístulas perianais
Cerca de 30% dos abscessos vão evoluir para a formação de fístulas perianais. Mas, com exceção daquelas causadas pelas doenças inflamatórias intestinais – como a doença de Crohn –, existem evidências de que algumas medidas podem diminuir essa ocorrência ou sua complexidade.
1. Drenagem precoce de abscessos perianais
Quanto mais pus estiver acumulado no abscesso, maior será a chance de que haja acometimento de estruturas nobres, destruição pela infecção e formação de trajetos complexos.
Ou seja, quanto antes o abscesso perianal for abordado, maior é a taxa de cicatrização completa e menor formação de fístulas.
2. Utilização de antibióticos no tratamento
Apesar de ser o abscesso ser considerado uma infecção, quando é drenado adequadamente, muitas vezes não é necessária a utilização de antibióticos.
Porém, existem estudos que apresentam resultados bons na completa cicatrização quando tais medicamentos são utilizados após a remoção da secreção.
3. Uso de setons de drenagem
Os pacientes querem uma rápida resolução do problema, então, quando são utilizados cadarços (seton), que são deixados no trajeto formado após a drenagem, isso pode ser frustrante.
O que é importante saber é que, muitas vezes, os cadarços permitem uma extração da secreção sem pressão, o que pode auxiliar no fechamento completo do trajeto.
4. Áreas de drenagem adequadas
Quando o orifício de extração da secreção purulenta não tem o diâmetro para a remoção eficaz de todo o conteúdo do abscesso, ele pode se reformar e agravar o quadro local.
Então, cabe ao médico se manter atualizado e realizar o tratamento de maneira adequada, além de caber ao paciente procurar ajuda o mais rápido possível.
Em outras palavras, se notar a formação de uma nodulação avermelhada perto do ânus, dolorosa e que está piorando, com ou sem febre, marquem uma consulta com um coloproctologista ou procure um serviço de urgência.
Fístulas podem ser tratadas
Lembrem-se também de que ser diagnosticado com fístula perianal não é o fim do mundo.
Cada paciente deverá ser tratado de maneira individualizada e sempre visando a preservação da função da continência anal e a cura.
Até semana que vem, pessoal!
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