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Cirurgia de câncer de reto: Quem precisa operar e quem pode fazer tratamento não-operatório?

Quando o assunto é cirurgia de câncer de reto, até os especialistas têm dificuldade em chegar a uma decisão em comum. A abordagem dessa doença varia de acordo com o país, a cultura local, a literatura médica e as convicções do cirurgião.


Além disso, outra variável muito importante nessa equação é, claro, o paciente. Cada vez mais bem informados, nossos pacientes querem participar da tomada de decisão sobre o próprio caso, algo que deve ser sempre levado em conta pelo médico assistente.


Mas, afinal, para quem a cirurgia de câncer de reto é recomendada, e quais casos podem ter tratamento não-cirúrgico?


Não tem resposta fácil para essa pergunta, mas vamos tentar explicar melhor o que há de maior consenso sobre o tratamento do câncer de reto.


Relembre o que é o reto

Para quem não sabe, o reto é a parte final do intestino grosso, responsável por armazenar as fezes antes de serem eliminadas do corpo. Ele funciona como uma espécie de “reservatório”, que se enche à medida que o processo de digestão avança.


Quando o reto está cheio, os nervos da região enviam um sinal ao cérebro indicando que é hora de evacuar. Algumas características do reto:


  • Tem cerca de 12 a 15 cm de comprimento

  • Conecta o cólon (a última porção do intestino grosso) ao ânus, a abertura por onde as fezes saem


Cirurgia de câncer de reto

Historicamente, o câncer de reto era tratado principalmente por meio de cirurgia, radioterapia e quimioterapia. A cirurgia, em especial, era considerada essencial para remover o tumor, com foco na ressecção total da área afetada, muitas vezes envolvendo a remoção de parte do reto e dos tecidos circundantes.


Dependendo do estágio do tumor, esse tratamento agressivo poderia envolver até mesmo a necessidade de uma colostomia, em que o paciente precisaria de uma bolsa externa para coletar fezes.


A cirurgia de câncer de reto é para todos os pacientes?

Procedimentos cirúrgicos, como de câncer de reto, podem trazer consequências significativas para a qualidade de vida dos pacientes, como complicações relacionadas à continência fecal e alterações da função sexual.


A partir desse cenário, começou-se a questionar se todos os pacientes realmente precisavam de cirurgias tão radicais, especialmente em casos onde o tumor era completamente destruído por outros tratamentos, como a quimiorradioterapia (um tratamento que combina radiação e quimioterapia).


Tratamento não-cirúrgico de câncer de reto

O conceito de "Watch and Wait" (que é o tratamento não-operatório dos pacientes) surgiu como uma abordagem alternativa para pacientes com câncer de reto que experimentavam uma resposta clínica completa após quimiorradioterapia.


Na década de 1990, pesquisadores começaram a observar que, em alguns casos, o tumor não era mais detectável após esses tratamentos iniciais. Isso levou à pergunta: seria realmente necessário submeter esses pacientes a cirurgias invasivas se o tumor parecia ter desaparecido?


Estudo pioneiro sobre tratamento de câncer de reto

Em 2004, a cirurgiã brasileira Dr. Angelita Habr-Gama foi uma das pioneiras a explorar essa questão de maneira sistemática. Seu trabalho envolveu a observação de pacientes que tinham respondido completamente à quimiorradioterapia, mas que optaram por não passar por uma cirurgia imediata.


Ela propôs que, nesses casos, os pacientes poderiam ser monitorados de perto, sem cirurgia, e que a intervenção cirúrgica só seria realizada se o tumor reaparecesse.

Hoje, o tratamento “watch and wait” não é mais experimental, mas não é para todos.

Médico acompanha paciente com câncer de reto
O acompanhamento médico é essencial para casos de câncer de reto

Quando a cirurgia de câncer de reto é indicada?

A cirurgia continua sendo o padrão-ouro para pacientes em que as lesões estão localizadas a mais de 4 cm do canal anal (reto médio e alto), uma vez que causa pouca consequência para a qualidade de vida dos pacientes no pós-operatório.


Nesses casos, a cirurgia para tumores de reto é extremamente eficaz no controle da doença.

No entanto, os pacientes com tumor de reto baixo são uma situação à parte. Esses casos são desafiadores, pois a reconstrução do intestino pode não ser possível:


  1. Devido à falta de margem de segurança em relação ao tumor.

  2. Porque a emenda entre o cólon e o reto ficaria muito próxima do ânus, comprometendo permanentemente a qualidade de vida do paciente.


No primeiro caso, a única alternativa seria a realização de uma colostomia definitiva. No segundo, o risco seria a pessoa sofrer com incontinência fecal, ou dificuldade em distinguir entre a liberação de gases e fezes.


Qual a alternativa para esses casos?

Nesses casos, indicamos o protocolo "watch and wait", em que se realiza radioterapia e quimioterapia, acompanhadas por exames periódicos para avaliar se o câncer desaparece.


Se o tumor persistir ou desaparecer e depois voltar a crescer, a cirurgia será necessária. 

Todavia, se o tumor desaparecer, o que ocorre em até 42% dos casos, o paciente será acompanhado rigorosamente e pode não precisar de cirurgia.


Vale lembrar que nessa situação, o paciente deverá ser acompanhado de maneira intensiva, com exames físicos, endoscópicos (como a colonoscopia) e de ressonância magnética em intervalos curtos. Se isso não for possível, a cirurgia está indicada também.


Conclusão

Claro que gostaríamos de poder tratar todos da maneira menos invasiva possível, mas o câncer de reto é uma doença cruel e necessita ser tratada como tal. A cirurgia entra nesse contexto.


De toda forma, a melhor abordagem ainda é a prevenção, com hábitos de vida saudáveis e realizando os exames de controle na época correta.


Abraços!

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