A prática diária de um médico coloproctologista ou cirurgião de intestino envolve procedimentos realizados dentro da cavidade abdominal, com o tratamento de doenças, remoção de lesões e emendas de alças intestinais.
E, nos últimos anos, observamos a introdução da cirurgia robótica como aliada contra o câncer colorretal e como alternativa para abordagem a outras doenças intestinais.
Quais são as vantagens da cirurgia robótica?
A cirurgia robótica é considerada uma técnica minimamente invasiva, mas será que há outras vantagens da sua utilização? Para responder a essa pergunta, vamos falar um pouco sobre a história e a evolução da operação coloproctológica.
Como o nosso intestino tem relações anatômicas com todas as estruturas e os órgãos abdominais, até há 20 anos, as cirurgias eram realizadas com incisões amplas (cortes). Isso permitia uma exposição adequada de toda a cavidade abdominal.
Apesar de ser um procedimento que poderia ser desempenhado de forma confortável pelo profissional, essa via de acesso tinha grandes limitações e repercussões na evolução e na recuperação dos pacientes. Vamos entender por quê?
Grandes incisões = grandes riscos
Antigamente, grandes incisões geralmente denotavam grandes cirurgiões, visto que eram os profissionais que realizavam os procedimentos mais complexos e demandavam maior exposição das estruturas dentro do abdomen.
O problema é que cirurgias com grandes incisões geravam muita dor no pós-operatório, atrasavam a recuperação do organismo. Devido ao tamanho da agressão, aumentavam as chances de problemas pulmonares pós-operatórios e também a chance da ocorrência de hérnias e suas complicações.
Cirurgia minimamente invasiva = avanço
Nesses últimos anos, principalmente a partir de 2006, foi observado a adoção cada vez mais frequente de técnicas laparoscópicas nas abordagens das doenças abdominais.
Isto é, o acesso da cavidade passou a ser feito por meio de portais (pequenos orifícios) que com o uso de pinças e câmeras permitiam a realização de uma mesma cirurgia, com muito menos exposição do ambiente interno e o meio externo.
Assim, esses procedimentos levaram a uma incidência muito menor de infecções, hérnias, dor e até esquecimento de objetos estranhos ao organismo dentro do abdome.
Protocolos também evoluíram
Associado aos benefícios mencionados, a adoção de protocolos padronizados de recuperação pós-cirúrgica propiciou a aceleração da alta hospitalar – dos antigos dez dias para três.
Em outras palavras, antes um indivíduo em recuperação ficava até 7 dias para iniciar a dieta, enquanto hoje ele sai do bloco cirúrgico já com liberação de ingestão, logo ao chegar ao quarto.
Isso é muito bom, pois, quanto menos tempo a pessoa ficar internada menor a chance de infecções hospitalares, riscos de eventos adversos e melhor recuperação.
Procedimentos têm algumas desvantagens
Mas nem tudo são flores… A cirurgia laparoscópica não é fácil, exige um treinamento bastante especializado, o tempo operatório não é menor e a ergonomia para o cirurgião é muito pior.
Frequentemente, vemos nas salas cirúrgicas cirurgiões em posições de “contorcionismo” para conseguir performar e concluir uma operação. Isso é tão verdade que um célebre cirurgião afirmou que a cirurgia minimamente invasiva transferiu a dor pós-operatória do paciente para o cirurgião.
E, então, chegou o robô!
Desde 2002, as plataformas robóticas de cirurgia vêm evoluindo para permitir o tratamento do câncer colorretal e de doenças intestinais. Nesses últimos cinco anos, os avanços instrumentais e técnicos têm sido monumentais.
É importante que todos entendam o que é a cirurgia robótica.
O que é a cirurgia robótica?
Chamamos de cirurgia robótica a utilização de uma plataforma em que o cirurgião opera em um local diferente de onde está o paciente e a movimentação de câmera e pinças é feita por braços automatizados que mimetizam os movimentos virtuais realizados pelo executor.
Só para deixar claro, o robô não opera sozinho, isto é, o cirurgião faz o movimento no console e a máquina reproduz, com diminuição de eventuais tremores e movimentos bruscos naturais dos humanos.
Quais os benefícios da cirurgia robótica?
A abordagem robótica permite incisões pequenas e menor trauma à parede abdominal.
Estudos demonstraram que, com a opção de cirurgia robótica, há menor chance de que seja necessária a realização de uma laparoscopia.
Além disso, alguns pacientes com menos chances de serem operados por via laparoscópica – obesos mórbidos e com tumores avançados de intestino – podem ser beneficiados pela opção da cirurgia robótica.
Há vantagem para o cirurgião?
Talvez a maior vantagem do uso da plataforma robótica seja a ergonomia para o cirurgião, que pode operar:
Em uma posição mais confortável e menos cansativa;
Com visão 3D;
Com uso de pinças que mimetizam a posição das mãos humanas.
Principalmente em indivíduos com doenças pélvicas (endometriose, tumores de reto), em que o campo cirúrgico é muito restrito, o uso dessas pinças pode ser definitivo na conclusão do procedimento com sucesso.
Além disso, uma das vantagens da visão em 3D é permitir que estruturas escondidas atrás de outras possam ser preservadas com melhor acurácia.
Limitações da cirurgia robótica
A primeira e talvez mais importante limitação da cirurgia robótica é o custo, que é considerável.
O uso de materiais especializados e muitas vezes descartáveis é bastante alto, assim como o custo para o hospital em adquirir o equipamento. Além disso, é exigido um processo de certificação do cirurgião, para maximizar as chances de sucesso e minimizar os riscos.
Ou seja, ainda são poucos os profissionais habilitados na técnica.
Há muito para evoluir. Os robôs ainda não estão disponíveis para todos e ainda não existem estudos que analisem quais são os pacientes mais beneficiados pela cirurgia robótica.
Mas há algumas certezas: a evolução das plataformas e a padronização das técnicas é uma realidade que contribuirá de maneira indiscutível para uma melhor assistência a todos.
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