Estamos quase chegando em abril, mês de conscientização sobre a doença pilonidal (DP). Também conhecida como cisto pilonidal, a DP é uma doença adquirida durante a vida, que tem relação com o pelo e acontece, na maioria das vezes, entre as nádegas, próxima ao osso sacro.
As teorias sobre a origem desse cisto apontam para a penetração ou o retraimento de um fio, ou seja, de um pelo que, em contato com a derme, leva a uma reação do organismo.
Esse pelo acaba sendo um corpo estranho. Quando nosso corpo não reconhece uma estrutura ou órgão como seu, ele tenta repeli-la por meio de suas células de defesa, o que gera inflamação.
O cisto pilonidal é muito comum e é mais frequente em adultos, jovens, do sexo masculino e moderadamente obesos.
Como tratar o cisto pilonidal?
Exitem diferentes técnicas para tratamento do cisto pilonidal, como já abordei neste texto.
Nesta semana, conversando com um colega cirurgião sobre um caso de pós-operatório de DP, ele fez uma pergunta: “vale a pena mesmo fazer técnicas menos agressivas para o tratamento da DP?”
A resposta para essa pergunta parece simples, pois o comum racional é que sempre o tratamento menos agressivo é melhor, não é mesmo? Porém, e se a chance de retorno da doença for maior?
Essa ponderação pode indicar uma tendência para o tratamento mais invasivo e definitivo.
Tratamento não cirúrgico para cisto pilonidal
A maior parte do que será discutido aqui tem relação com os procedimentos cirúrgicos, mas é importante lembrar do tratamento não operatório.
Em outras palavras, a medida mais fácil para diminuir a frequência de inflamações ou infecções – além de auxiliar no sucesso da cirurgia, ou mesmo servir como tratamento isolado – é por meio da remoção dos pelos da região acometida pelo cisto.
Os pelos podem ser removidos com depilação convencional, química ou a laser. O mais difícil, na verdade, é a manutenção dessas condutas, visto que a continuidade da depilação convencional vai diminuindo com o passar dos anos.
É por isto que recomendamos a depilação a laser ou eletrólise dos pelos, que são mais duradouras e exigem menor número de sessões.
Cirurgia para cisto pilonidal
Voltando ao tema proposto, vamos falar de cirurgia para cisto pilonidal. Alguns indivíduos que apresentam a doença pilonidal, mesmo com todos os cuidados locais, vão apresentar um processo inflamatório ativo, com drenagem de pus pelos orifícios, abscessos recorrentes e dor local.
Esses casos precisam ser abordados com procedimentos mais resolutivos e com resultados mais duradouros. Com exceção de quando há abscesso (acúmulo de pus), a maioria dos pacientes não precisa de cirurgia de urgência. A depilação pré-operatória pode ser uma boa opção, que ajuda a diminuir a chance de recorrência da doença e facilita os cuidados depois da operação.
É fundamental que a região seja mantida sem pelos, de preferência para sempre, mas principalmente no pós-operatório imediato. Se houver contaminação da ferida cirúrgica com novos fios, a doença fatalmente retornará.
Retirada de todo o cisto pilonidal
Quando avaliado em pesquisas científicas, as técnicas cirúrgicas abertas, em que há a retirada agressiva de toda a doença, a taxa de cicatrização do cisto pilonidal é maior que 91%, mas há alguns pontos a serem discutidos.
Quando a ferida é fechada com suturas (pontos), o tempo de cicatrização e de retorno do paciente ao trabalho é mais curto. Mas a taxa de recorrência da doença pilonidal é maior do que se deixarmos a ferida aberta.
Ferida aberta ou fechada
O tempo de cicatrização é um fator muito importante, visto que, nos casos em que a ferida é deixada aberta, a demora de cicatrização é em torno de 65 dias. Além disso, a quantidade de secreção local muitas vezes impede o paciente de ir trabalhar.
Por outro lado, quando a ferida é fechada na linha do meio da nádega, existe uma chance maior que os pontos se abram quando o paciente vai se assentar. Ou seja, é como se a ferida ficasse aberta, como na outra técnica.
Outros tratamentos para doença pilonidal
Existem outras maneiras mais agressivas de tratamento da DP que incluem a mobilização de retalhos de pele e/ou músculo. Isso consiste em remover a parte onde está a doença e, então, cobrir o defeito com a pele de uma região doadora próxima.
Como é possível imaginar, nesse caso, a extensão do procedimento torna-se maior. De toda forma, o tempo de recuperação não é tão longo, e as taxas de cicatrização completa são bem altas (maiores que 94%).
Os tipos de retalhos (cobertura com pele) são vários, e cada um deve ser indicado de acordo com a experiência do cirurgião, do tipo de doença e da anatomia do paciente.
Comparação de técnicas para tratar cisto pilonidal
Agora, vamos comparar com as técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia de Bascom e o Episit©.
A cirurgia de Bascom envolve a remoção individual dos pits (pontos em que o pelo penetra na pele), bem como a remoção da área em que há saída de pus e a curetagem do trajeto (raspagem). Além disso, é feita a confecção de pequenos cortes de relaxamento para facilitar a cicatrização.
A técnica Episit© consiste na passagem de uma microcâmera através da pele, de forma a identificar o local em que os pelos estão acumulados. Assim, é possível fazer sua retirada e posterior cauterização do local.
Cirurgia de Bascom
A cirurgia de Bascom é tecnicamente simples e não gera grandes defeitos cirúrgicos para serem cicatrizados. Além disso, é um procedimento que apresenta uma taxa de cicatrização de 82%, o que permite um rápido retorno às atividades diárias.
Outra característica da cirurgia é o fato de ser um procedimento de menor custo, por não utilizar materiais especiais.
Técnica Episit©
Já o Episit© é um procedimento que costuma obter ótimos resultados de cicatrização (94%) e, consequentemente, ajuda no retorno precoce ao trabalho. Porém, ela tem como crítica o pouco tempos de acompanhamento dos estudos, o que não permite determinar a chance de recorrência no longo prazo.
Além disso, essa técnica é mais dispendiosa devido à necessidade de utilização de tecnologias especiais.
De toda forma, tanto a cirurgia de Bascom quanto o Episit© se mostram técnicas simples de executar e com resultados adequados no tratamento do cisto pilonidal.
Há outro tipo de abordagem que também é utilizado em outros países, que utiliza a aplicação de fenol cristalizado para cauterizar a doença pilonidal. Mas, como o fenol cristalizado não está disponível comercialmente, vamos deixar para descrever essa técnica em posts futuros.
Cicatrização do cisto pilonidal
Se compararmos os resultados, a taxa de cicatrização é maior em cirurgias mais agressivas. O paciente deve ser orientado sobre isso, mas também devemos lembrá-los que o tempo de recuperação, a dor e a chance de complicações com a ferida operatória podem ser maiores.
Cada caso deve ser individualizado e o desejo e as expectativas de cada paciente devem ser ouvidos e respeitados.
Qual técnica seguir para DP?
Consideramos mais racional que a abordagem nunca seja mais agressiva que a própria doença pilonidal. Assim, a escolha de cirurgias menos agressivas, no início, é uma boa opção.
De toda forma, é válido saber que um procedimento menos invasivo não impede que outro seja realizado (em caso de recidiva do cisto pilonidal).
Se somente a taxa de resolução do problema e menor recorrência forem levadas em conta, aí a escolha pode ser outra. Lembre-se que, quando existem tipos de tratamento demais para uma mesma doença, nenhum é perfeito.
De toda forma, se o pelo for a causa do problema, manter a região limpa é fundamental para o sucesso.