A frase “o intestino é nosso segundo cérebro” foi bastante difundida nos últimos anos e, assim, fica cada vez mais fácil entender a importante relação entre o nosso trato digestório e aspectos relacionados ao sistema nervoso central.
E parece que essa relação é mais direta do que pensávamos, mais especificamente a constipação intestinal e o risco de desenvolvimento de demência.
Estudo sobre constipação e demência
Na publicação da Conferência Internacional da Associação da Doença de Alzheimer de 2023, foram citados alguns estudos que correlacionam o funcionamento intestinal lentificado - constipação, em outras palavras- e o declínio da função cognitiva de alguns indivíduos - por exemplo, demência. Isso é algo bastante relevante e vale a pena abordar um pouco.
Outro assunto levantado pela publicação foi que alguns tipos de bactérias presentes no nosso microbioma podem ser benéficos e outros maléficos para a função cerebral.
O intestino e a constipação
Nosso intestino e seu funcionamento é influenciado por vários fatores, incluindo:
Dietéticos
Sociais
Orgânicos
Comportamentais
Genéticos
Além disso, cada um de nós apresenta características próprias do movimento do bolo fecal em seu interior. Cerca de 16% da população relata sintomas relacionados a funcionamento intestinal lentificado.
O famoso dizer “devemos evacuar uma vez ao dia, todo dia” não pode ser generalizado como o que é normal.
Em outras palavras, evacuação normal é aquela realizada sem esforço, com fezes bem formadas e que geram sensação de esvaziamento retal após o processo. Ou seja, não precisa ser diário, mas há na literatura médica um padrão de considerar constipado aquele indivíduo que fica mais de três dias sem eliminar fezes.
Relação entre constipação e demência
Voltando ao estudo mencionado acima… Os pesquisadores avaliaram uma população de aproximadamente 110 mil pessoas e mensuraram, de maneira subjetiva e objetiva, a capacidade cognitiva de uma parte deles ao longo dos anos.
A pesquisa constatou que os participantes que evacuavam a cada três dias ou mais tinham 73% de apresentar declínio do raciocínio e, comparativamente, essa perda seria de 3 anos com relação a pessoas que evacuavam mais frequentemente.
A saúde do microbioma importa
O estudo também constatou que pessoas que tinham em seu microbioma menor quantidade de bactérias capazes de digerir fibras dietéticas, bem como aquelas capazes de produzir butirato (substância que ajuda a manter a saúde da mucosa do nosso intestino grosso), apresentavam piores funções evacuatórias e desempenho nos testes neurológicos.
Outros dois estudos realizados no mesmo período encontraram que bactérias como Ruminococcus e Clostridium em maior quantidade teriam possível efeito protetivo a função cognitiva.
Mas o que esses estudos significam na prática?
Vocês devem estar pensando: o que é desconhecido e quais são alguns pontos críticos importantes nesses estudos?
Primeiro, vale ressaltar que a população estudada não foi recrutada especificamente com esse objetivo - da relação entre constipação e demência -, o que pode gerar alguns erros na interpretação dos resultados.
Segundo, existem muitos fatores relacionados ao funcionamento intestinal e hábitos de vida que podem se relacionar com a ocorrência de demência e que podem ter sido ignorados durante a avaliação dos pesquisados. Isto é, a presença de bactérias no trato gastrointestinal de algumas pessoas pode não ser o único fator relacionado à proteção da sua saúde neurológica.
O que fazer para esclarecer esses dados?
Independente de erros metodológicos ou dos fatores que podem estar associados ao desenvolvimento de demência, o fato de um estudo que avaliou uma população representativa ter apresentado resultados tão impactantes leva à necessidade de mais pesquisas.
Por exemplo, seria válida a realização de estudos voltados para investigar a relação entre constipação e demência. Eles poderiam auxiliar, por exemplo, no esclarecimento de sobre o impacto da frequência do funcionamento intestinal, bem como da constituição do microbioma e a relação com a função cognitiva.
Pesquisas assim poderiam ainda ajudar a esclarecer quais atitudes podem ser tomadas pelos profissionais de saúde para ajudar na prevenção de agravos.
Estudo atual sobre proteção cerebral
Atualmente, há uma pesquisa justamente nessa linha, o US-pointer – sigla em inglês que significa redução de risco e proteção da função cerebral por meio de intervenções no estilo de vida. Quando suas conclusões forem divulgadas, talvez tenhamos algumas respostas mais objetivas.
O que fazer para cuidar de intestino e cérebro
Bom, lembre-se da ligação entre intestino saudável e corpo saudável.
Nosso trato gastrointestinal se interconecta com todos os outros sistemas. Ou seja, mesmo que não tenhamos todas as informações que desejamos, reforçar a importância em investir em hábitos saudáveis é papel de todos. Isso inclui:
Hidratação frequente
Alimentação rica em fibras
Mínima ou nenhuma ingestão de alimentos ultraprocessados
Cessação do tabagismo e etilismo
Prática frequente de exercícios físicos
São dicas fáceis que valem para todos!