Muitos já sabem que o diabetes mellitus é caracterizado pelo aumento exagerado da glicose no sangue. Mas ainda resta a dúvida se, entre tantos impactos pelo corpo, o diabetes pode afetar o intestino.
Antes de tudo, é importante esclarecer que o diabetes tem relação com a insulina, um hormônio que regula o açúcar sanguíneo. Ou seja, uma pessoa diabética pode apresentar uma alteração na função da insulina, uma deficiência ou mesmo uma resistência do próprio corpo a ela.
Impactos gerais do diabetes
É de conhecimento geral que o diabetes é uma doença que afeta praticamente todos os órgãos do organismo e que, se não for controlada, gera consequências sérias para o paciente. Tudo isso depende também da duração, da gravidade da doença e de outras enfermidades associadas.
Diabetes e manifestações gastrointestinais
Quando debatemos se o diabetes pode afetar o intestino, ou melhor, quais podem ser as manifestações gastrointestinais dessa doença, o foco dos estudos normalmente é em órgãos como o estômago e o pâncreas, pois são considerados alvos primários das alterações.
Entretanto, sabemos que toda extensão do sistema digestório pode ser afetada. Portanto, o termo enteropatia diabética (ED) é considerado mais adequado.
Como o diabetes afeta o intestino
Existem alguns sinais que mostram como o diabetes pode afetar o intestino e o sistema como um todo. Em outras palavras, os sintomas da ED podem variar, sendo praticamente ausentes (assintomático), em alguns casos, ou até apresentar uma manifestação do trato gastrointestinal alto ou baixo.
No caso do trato gastrointestinal alto, é possível observar:
Azia;
Dificuldade de deglutição;
Má digestão;
Sensação de empachamento (sensação de que a digestão “parou”).
Já no trato baixo, eis alguns sinais:
Diarreia;
Incontinência fecal.
Tanto os pacientes com diabetes tipo 1 (insulino-dependentes, isto é, que precisam de doses de insulina) quanto tipo 2 (não insulino-dependentes) podem apresentar esses sintomas.
Controle da glicemia
Infelizmente, não há comprovações que o controle da glicemia (nível de açúcar no sangue) possa proteger os pacientes de desenvolver ED. Mas a observação de casos nos mostra que pacientes normoglicêmicos (glicemia normal) apresentam um controle mais fácil dos sintomas do trato gastrointestinal.
Por isso, devemos estimular a utilização correta das medicações hipoglicemiantes e/ou insulina. Além disso, já foi demonstrada uma relação positiva entre pacientes com níveis altos de açúcar no sangue e maior incidência de sintomas esofageanos e estomacais. Ou seja, essas pessoas podem se beneficiar de tratamentos.
Medicamentos para enteropatia diabética (ED)
O tratamento do paciente com enteropatia diabética envolve o uso de medicações que visam o controle da motilidade ou movimento intestinal, alívio dos sintomas e das complicações.
Por exemplo, os pacientes com diabetes tipo 1 apresentam maior risco de desenvolver doença celíaca (sensibilidade ao glúten) e devem ser acompanhados, mesmo que sem sintomas. Esses indivíduos podem vir a apresentar a desmineralização óssea, sem sintomas abdominais.
Como diabetes afeta o estômago
Pessoas com diabetes podem desenvolver anticorpos contra células do estômago, o que poderá gerar perda de células produtoras de ácido clorídrico e, por sua vez, aumentar a chance de queixas de empachamento e má digestão com o envelhecimento.
Após o controle dos sintomas, é importante indicar exames de avaliação do tempo de esvaziamento gástrico, endoscopia digestiva alta e de avaliação de refluxo ácido. Isso é importante especialmente em pacientes com sintomas digestivos altos.
Constipação como sintoma de diabetes
Já nos portadores de sintomas baixos, a queixa mais frequente é a constipação. Cerca de 60% das pessoas com diabetes por uma longa data apresentam essa queixa, então, é válido realizar exames endoscópicos e radiológicos, de forma a excluir outras doenças.
Outra queixa presente é a incontinência, principalmente noturna, que pode ser resultado da lesão neurológica do diabetes.
A diarreia, por outro lado, é um sintoma menos frequente, mas deve ser estudada para avaliação de insuficiência do pâncreas, doença celíaca e causas específicas como supercrescimento bacteriano.
Tratamento geral para controle glicêmico
Algumas medidas gerais, como dieta específica e controle glicêmico, devem ser estimulados em todos os pacientes com diabetes. Isso envolve a manutenção de:
Hidratação adequada e correção de distúrbios eletrolíticos (isto é, da perda de nutrientes essenciais);
Diminuição da ingestão de alimentos gordurosos e não-digeríveis;
Aumento da ingestão de fibras.
Por outro lado, não devemos estimular o jejum prolongado e a ingestão de alimentos com alto conteúdo calórico.
O indivíduo com diabetes deve manter o controle do status euglicêmico, de forma a prevenir grande parte das complicações relacionadas à condição, incluindo as gastrointestinais.
No caso dos sintomas altos, o tratamento é relacionado a:
Controle do refluxo;
Estimulantes da motilidade gastrointestinal e antieméticos (medições contra náuseas e vômitos).
Nos casos em que o impacto na motilidade gástrica é intenso e em que há alterações musculares, pode haver indicação de tratamentos com estimuladores elétricos do estômago e injeção endoscópica de toxina botulínica.
Quando a queixa é baixa, a constipação e a diarreia podem ser tratadas com medicações direcionadas (laxativos e constipantes), desde que as causas específicas tratáveis tenham sido excluídas. Vale lembrar que antibióticos e probióticos são utilizados em caso de disbioses.
Por sua vez, os indivíduos que manifestam incontinência podem se beneficiar de reabilitação perineal, com acompanhamento de fisioterapia especializada e, em casos selecionados, neuroestimuladores implantáveis.
Controle do diabetes permite qualidade de vida
Como todas as doenças crônicas, o diabetes deve ser controlado, permitindo que o indivíduo tenha uma vida praticamente normal e com menor risco de complicações. Em outras palavras, ainda que o diabetes possa afetar o intestino, o acompanhamento médico adequado ajuda a prevenir isso!
A atenção com a saúde é o melhor remédio.