Praticamente todos os pacientes que recebem o diagnóstico de uma doença inflamatória intestinal, como a doença de Crohn e a Retocolite ulcerativa Idiopática, nos perguntam “o que foi que eu fiz para isso acontecer? Será que foi a minha dieta, será algo que eu comi”?
Ainda que nós expliquemos que a inflamação é espontânea, um resultado de aspectos do funcionamento do organismo, do sistema imunológico, de aspectos sócio-culturais e alimentares, é natural do ser humano procurar um fator que explique o que está acontecendo e, de preferência, algo que ele possa fazer para mudar.
Ao longo do texto, vamos falar sobre questões relacionadas às doenças inflamatórias intestinais e, nos links abaixo, você pode saber mais sobre elas:
O que pode ser feito?
Infelizmente, não há apenas um aspecto que possa ser alterado para se curar ou controlar as doenças inflamatórias intestinais. De toda forma, uma abordagem multidisciplinar é fundamental para o sucesso do tratamento e, com certeza, a dieta é fator fundamental. Inclusive, quanto mais grave for a intensidade inflamatória, mais o suporte nutricional tem papel preponderante.
O processo inflamatório intestinal tem grande impacto na capacidade absortiva de nutrientes pelo intestino delgado, induz a ocorrência de diarreias que geram perda de líquidos, eletrólitos e sangue, além de consumirem as reservas do próprio organismo que tenta reconstruir todo o dano que está ocorrendo pelo corpo.
Em casos extremos, a tolerância a alimentos por via oral pode estar tão comprometida que é necessário nutrir a pessoa por via venosa.
Particularidades da doença inflamatória intestinal
As doenças inflamatórias intestinais têm muitos espectros e não há uma “receita de bolo” que ajude todo mundo.
Como diferentes segmentos intestinais podem estar acometidos e a extensão e intensidade das lesões são muito variáveis, sempre o auxílio de um profissional nutricionista ou nutrólogo pode ajudar. Hoje, vamos tentar dar noções gerais sobre aspectos importantes de escolhas inteligentes para os pacientes com esses problemas.
Hábitos que ajudam todos
Tem coisa que vale para todo mundo, isto é, as noções gerais de nutrição saudáveis valem para os pacientes com inflamação intestinal, então, vamos relembrar?
Evitar alimentos ultraprocessados
Hidratar-se frequentemente
Não ficar muito tempo em jejum
Evitar bebidas alcoólicas
Realizar exercícios físicos frequentemente, de acordo com orientação médica
Evitar alimentos acondicionados de maneira inadequada – isto é, expostos ao ambiente por longos períodos ou que não foram conservados como orientado pelo fabricante
Procurar alimentar-se de forma natural, evitando conservantes artificiais
Recomendações na dieta para doença inflamatória intestinal
Ainda que não exista necessariamente uma dieta ideal para pacientes com doença inflamatória intestinal, existem medidas dietéticas que podem ajudar bastante. Vejam abaixo.
1. Tratamento médico adequado
Primeiro, faça o tratamento médico de maneira adequada. A doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa Idiopática já são problemas de difícil controle por si só, e não se pode abdicar do tratamento correto, indicado por especialista.
2. Dieta excessivamente restritiva não ajuda a doença inflamatória intestinal
Segundo, restrições extremas não ajudam. A dieta não pode ser mais agressiva que a doença e, quando nutrientes essenciais são removidos, podem induzir a quadros de desnutrição significativa e piorar mais ainda o estado da pessoa.
3. Escolha bem os grupos alimentares
Em terceiro, é importante conhecer os grupos alimentares. Vamos tentar separar cada grupo para facilitar as escolhas por alimentos que auxiliem na recuperação das áreas lesionadas e recomposição das reservas.
Proteínas: são muito importantes, principalmente aquelas de alto valor nutritivo como clara de ovo, frango e peixe devem ser oferecidos em abundância. Por outro lado, carnes vermelhas devem ser ingeridas em menor quantidade, pois podem ter efeito inflamatório e piorar a qualidade do bolo fecal, piorando a diarreia.
Carboidratos: são responsáveis pelos nutrientes de rápida absorção e de acesso imediato pelo organismo e não podem ser negligenciados. Evitar produtos industrializados e com alto teor de açúcar.
Fibras: ajudam na formação do bolo fecal, mas também podem influenciar na aceleração do trânsito do intestino. Devem ser utilizadas conforme a necessidade do paciente, lembrando que elas podem ser insolúveis e solúveis.
As fibras insolúveis aceleraram o trânsito intestinal e devem ser utilizadas com cautela nas pessoas com diarreia, enquanto as solúveis produzem um bolo fecal de maior volume e qualidade, sendo boas para quase todos os pacientes com doença inflamatória intestinal.
Exemplos de tipos de fibras
Para complementar o ponto anterior, vamos detalhar melhor as fibras.
Solúveis:
Cereais integrais: aveia, cevada, chia, linhaça, farelo de arroz, soja, “all bran”, gérmen de trigo
Frutas: maçã, limão, banana, laranja, morango, abacate
Legumes: couve-flor, batata, batata-doce, cenoura
Leguminosas: feijão, ervilha, lentilha
Insolúveis:
Amêndoas com casca
Amendoim com casca
Azeitona verde
Coco ralado
Nozes
Passas
Abacate
Uva preta
Pera com casca
Maçã com casca
Ameixa com casca
Laranja e tangerina
Morango
Banana
4. Lembre-se de controlar as gorduras
As gorduras também são fundamentais na alimentação, mas os excessos devem ser evitados, pois nem sempre são bem toleradas e podem piorar a diarreia em alguns casos.
5. Suplementos de vitaminas podem ajudar
Em pacientes com restrições alimentares ou quadros de inflamação, ou desnutrição importantes, as vitaminas em forma de suplementação devem ser oferecidas, principalmente, reposição de vitamina B12 e D.
Conclusão
É importante lembrar que essas noções gerais devem ser levadas apenas como um guia na tentativa de organizar a alimentação e não como um manual. Sabemos que intolerâncias individuais podem ser exacerbadas nesses casos e, com isso, alimentos lácteos, com alto conteúdo de FODMAPS ou glúten podem agravar os sintomas.
A mensagem principal é: fiquem atentos, sigam as orientações médicas e procurem equipes multidisciplinares – essa é uma tríade de sucesso na abordagem das doenças inflamatórias intestinais.