Há anos temos observado o aumento da incidência de doenças gastrointestinais, funcionais, flatulência excessiva e intolerâncias alimentares. Agora, com o advento das redes sociais, as soluções simplistas baseadas em determinados alimentos, probióticos, prebióticos e suplementação tem se multiplicado.
Recentemente, vários portais noticiaram que estaríamos perdendo a capacidade de digestão de fibras, ou melhor, de digerir vegetais.
Entretanto, temos que pensar que, respostas simples para problemas complexos raramente estão corretas e são apenas uma tentativa de trazer algo de fácil entendimento para a população confusa e que sofre.
A relação humana com os alimentos
A cada dia descobrimos novos fatores relacionados a modificação da nossa relação com os alimentos e a sua digestão. E, assim, janelas são abertas para tentarmos identificar um caminho a ser seguido.
Como já pudemos discutir aqui no blog, os FODMAPS – sigla em inglês para os alimentos fermentáveis e de difícil digestão pelo ser humano – estão muito relacionados à indução de sintomas de intolerância, alteração do hábito intestinal e excesso de gases em muitas pessoas.
Mas algum de vocês se lembra de nossos ancestrais, que viveram no campo ou que tinham alimentação proveniente do meio rural, ficarem reclamando de distensão abdominal, cólicas ou sensação de empachamento?
Houve mudança na capacidade de digestão de fibras?
Bem, não podemos dizer que a causa dessa mudança na nossa relação com os alimentos esteja esclarecida, mas um fator publicado na revista Science levanta uma discussão no mínimo interessante sobre para onde a humanidade está indo.
A celulose e outros polissacarídeos presentes nos vegetais não são adequadamente digeridos pelos humanos e os mamíferos em geral, e dependemos assim de nosso microbioma para realizar esta função. Nessa publicação, foi observado que as populações ancestrais, de caçadores-coletores e sociedades rurais tinham seu trato gastrointestinal colonizado por bactérias do tipo Ruminococcus sp.
Bactérias envolvidas na digestão de fibras
Esse tipo de bactéria tem a capacidade de montar complexo multienzimático que degrada a celulose e facilita a digestão dos vegetais. A teoria por trás de possuir esses microrganismos no sistema digestório é relacionada ao contato com animais herbívoros no processo de domesticação.
O que também foi observado, segundo o estudo, é que há um decréscimo gradual dessa população de bactérias em indivíduos que residem em sociedades industrializadas, o que tem ligação com a ingestão cada vez menor de fibras e a diminuição do contato com o meio rural.
Afinal, perdemos a capacidade de digerir vegetais?
Ainda é cedo para concluir que os resultados encontrados definem uma piora da tolerância a alimentos vegetais, mas levantam questões a serem discutidas e também suscitam novos estudos para aprofundar nesse assunto.
Pode ser que em um futuro próximo seja indicada a reintrodução ou suplementação dessas espécies de bactérias em nosso organismo. Só o tempo dirá.
Mas até lá, devemos encorajar sempre uma alimentação balanceada, rica em fibras, evitando alimentos ultraprocessados e industrializados.
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