Neste último post de maio, mês todo dedicado às Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), hoje vamos abordar as possíveis relações com o câncer de intestino.
Mas, antes disso, cabe aqui um momento de reflexão. Pude observar a mobilização mais intensa nas redes sociais, meios de comunicação e associações de apoio para a conscientização sobre as DII em toda a minha prática clínica. Isso é fantástico!
Se podemos tirar uma lição positiva dessa pandemia de Covid-19, essa é a ampliação das fronteiras e o alcance da informação. Por isso, como último tema, vamos falar sobre câncer, algo que assusta muito.
Há vasta literatura sobre a relação entre as doenças inflamatórias intestinais e o câncer de intestino, e caberá a esse pequeno texto tentar levar informação para o público.
Câncer de intestino em pessoas com Doenças Inflamatórias Intestinais
Realmente, o câncer de intestino representa até 15% das causas de morte em pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais.
Nessas pessoas, o processo de inflamação e cicatrização recorrentes das células que revestem o intestino parece representar um fator importante na origem do problema. Tanto é que a incidência dos cânceres vai aumentando à medida em que o paciente lida com a doença inflamatória.
Diferenças para Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa
Nesse momento, é preciso fazer uma diferenciação entre a Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa Idiopática (RCUI).
A associação entre a RCUI e o desenvolvimento de câncer de intestino é mais frequente e bem estudada. Por outro lado, no caso da Doença de Crohn, a chance dessa ocorrência é menor, mas está aparentemente relacionada ao acometimento do intestino grosso – principalmente em casos em que mais de 1/3 de sua extensão está inflamada, bem como em que há intensidade da inflamação e presença de estreitamentos e cicatrizes na mucosa.
Fatores de risco para câncer de intestino
No caso das pessoas com Doenças Inflamatórias Intestinais, os principais fatores de risco para se desenvolver câncer de intestino são:
O desenvolvimento da Doença Inflamatória Intestinal muito jovem (menos que 19 anos);
A extensão do intestino grosso acometido;
O tempo de diagnóstico – isto é, mais de 25 anos de acompanhamento;
A intensidade da inflamação;
O histórico familiar de DII;
O diagnóstico de colangite esclerosante primária – doença das vias biliares que pode acontecer concomitantemente em alguns pacientes.
Além do risco de desenvolvimento de câncer de intestino da maneira usual – ou seja, pela degeneração de pólipos benignos –, o paciente com Doença Inflamatória Intestinal pode desenvolver a displasia.
Em outras palavras, essa alteração celular que evoluirá para o câncer invasivo pode acontecer em áreas em que não havia lesões prévias, mas em que o processo de inflamação-cicatrização se manteve ativo por muitos anos.
Controle de quem tem Doença Inflamatória Intestinal
Os pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais precisam de uma vigilância intensiva, que deve começar inclusive naqueles com bom controle da doença – ou melhor, a vigilância começa de seis a dez anos a partir do início dos sintomas, a depender da extensão do intestino acometido.
Esse controle é feito com ajuda da colonoscopia, que deve ser feita a cada ano ou com até quatro anos de intervalo, dependendo do caso. Esse exame apresenta atualmente uma série de artifícios e protocolos para melhor detectar áreas suspeitas e auxiliar na correta abordagem do problema.
Mas nada supera o controle adequado da doença. Isto é, não adianta fazer exames cada vez mais frequentemente e com todos os riscos envolvidos, se não houve uma aderência rigorosa ao tratamento e, com isso, o paciente continuar inflamado. Manter o foco na prevenção é sempre o melhor remédio!
Mantenha seu acompanhamento
Apesar de o câncer de intestino ser uma doença que assusta, as informações escrita nesse texto não serve para gerar alerta. Ou seja, não é motivo para desespero, pois a incidência de câncer colorretal em pessoas com Doenças Inflamatórias Intestinais tem diminuído em tempos recentes.
Isso é atribuído a maior consciência sobre a doença, melhores tratamentos e também à aderência ao tratamento, bem como a protocolos de prevenção bem constituídos.
Por isso, é importante falarmos sobre as DII, saber sobre o comportamento da doença e a necessidade de acompanhamento rigoroso com exames e controle da inflamação. Isso certamente contribui para o menor risco de desenvolvimento de tumores malignos.
Esperamos que o Maio Roxo tenha sido esclarecedor para todos vocês! Que venha junho!
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