A PSOF é um exame que leva muitas pessoas a consultar com o coloproctologista. Ainda que muitos pacientes tenham dúvidas sobre ela, a maioria acredita que essa investigação é uma maneira de identificar alguma doença. Porém, o objetivo da PSOF não é bem esse.
Ao contrário do que se pensa, todo e qualquer paciente com sintomas de algum problema intestinal ou suspeita de câncer não deve fazer esse exame. Na verdade, o primeiro passo é encaminhar essa pessoa ao especialista para uma avaliação.
Em outras palavras, só existe um motivo para a solicitação da PSOF: rastreamento do câncer de intestino. Isso significa que a indicação desse exame é APENAS para os indivíduos que não têm sintomas ou fatores de risco para câncer do colo e reto.
Dessa forma, a PSOF é um exame que tem como objetivo a prevenção ao câncer de intestino.
O que é a PSOF
Para definir melhor seu papel, primeiro é importante entender o que é esse exame. Como o próprio nome diz a Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes (PSOF) é um método para detectar sangue em amostras de fezes.
Para isso, é necessário identificar a presença de “hemoglobina humana” nessas amostras. Em outras palavras, estamos falando de uma proteína responsável pelo transporte de oxigênio no sangue que, se presente nas fezes, irá acender o alerta do médico.
Entendido isso, existem dois exames de PSOF mais conhecidos, o método de guaiaco e o imunoquímico, que serão explicados a seguir.
Método Guaiaco
O método de guaiaco da PSOF, desenvolvido em 1864 por Van Deen, não é específico para detectar a hemoglobina humana. Ou seja, ainda que seja capaz de detectar essa proteína, ele poderá sofrer interferências de certas substâncias ou mesmo identificar uma hemoglobina animal, caso a pessoa tenha ingerido carne, por exemplo.
Com isso, o resultado pode ser apontado erroneamente como positivo. Em outras palavras, essa análise pode ser influenciada por vários fatores como:
Alimentação;
Uso de medicações;
Vitaminas etc.
Método imunoquímico
Já o método imunoquímico utiliza anticorpos específicos para hemoglobina humana, sendo capaz de detectar quantidades mínimas de sangue do paciente. Isto é, esse exame de PSOF não sofre interferências externas.
Então, é uma avaliação muito mais fidedigna e, por isso, costuma ser a mais utilizada nos serviços de saúde pelo mundo.
Colonoscopia após exame de PSOF positivo
Quando o resultado da PSOF é positivo para sangue nas fezes, é indicado que o paciente realize um exame invasivo como a colonoscopia.
Por isso, é importante saber se o teste de guaiaco foi utilizado, em qual centro foi feito e se a preparação do paciente foi adequada. A má preparação pode resultar em um resultado falso-positivo, levando à realização de uma colonoscopia sem a devida necessidade.
De toda forma, quando bem indicada, a PSOF é uma ferramenta poderosa na prevenção do câncer intestinal. Já foi demonstrado que a implementação de um grande programa nacional nesse sentido pode diminuir em até 50% as mortes pelo câncer de intestino. Ou seja, medidas preventivas podem ser mais efetivas e aplicáveis à população.
Outra forma de rastrear câncer de intestino
Como já debatemos em posts anteriores sobre câncer de intestino, ainda resta a dúvida: temos outras maneiras de rastreamento e qual é a melhor?
Essas respostas não são fáceis. A American Cancer Society indica que o melhor método de prevenção é aquele que é realizado no momento certo e com o intervalo correto. Ou seja, não adianta escolher um exame excelente, com altíssima precisão, se ele for caro e não pode ser oferecido a todos.
É nesse ponto que a PSOF se destaca. Enquanto uma colonoscopia pode custar de centenas a milhares de reais para a saúde, o sangue oculto é um exame de baixo custo, acessível e disponível no sistema público no Brasil.
Como é o rastreamento hoje no Brasil
Falta ainda um programa efetivo de prevenção ao câncer colorretal e, hoje, o Brasil pratica o que é chamado de “rastreamento de oportunidade”.
Esse tipo de abordagem faz com que o médico tenha que escolher o paciente e o método de prevenção, considerando aqueles que têm a chance de serem avaliados. Em termos populacionais, esse tipo de conduta é deficiente e, às vezes, até mais cara, pois apenas os pacientes que tiverem acesso ao atendimento serão beneficiados e submetidos a uma ferramenta de prevenção que não necessariamente é a mais custo-efetiva.
Indicações para o exame de PSOF
As novas recomendações para o início do processo de rastreamento de câncer de intestino foram modificadas, considerando o maior número de diagnósticos em população mais jovem.
Sendo assim, indivíduos com mais de 45 anos, sem sintomas ou fatores de risco que aumentem a chance de câncer de intestino, devem fazer a PSOF a cada um a dois anos.
Essa rotina de exames deve continuar até os 75 anos de idade. Já entre os 75 e os 85 a decisão sobre qual método utilizar cabe ao médico, conforme a saúde do paciente. Geralmente, não é rotina recomendar a manutenção de exames preventivos acima dos 85 anos de idade.
Lembrando que, em caso de aparecimento de fatores de risco ou sintomas, os exames para essa pessoa deixam de ser considerados como prevenção. Então, ela deverá ser encaminhada a um profissional capacitado para identificar a melhor maneira de avaliá-la.
Fatores de risco para câncer colorretal
É importante falar dos principais fatores de risco que podem aumentar a chance de câncer colorretal:
História familiar de câncer de intestino, intestino delgado, ovários, endométrio e vias urinárias;
História familiar de pólipos intestinais neoplásicos (de alto risco de malignização);
Portadores de doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e Retocolite ulcerativa).
Exames são definidos pelo médico
Devemos ressaltar que a escolha sobre a melhor ferramenta de rastreamento de câncer de intestino – com o exame de PSOF e outros – deve ser tomada conjuntamente entre médico, paciente e disponibilidade do serviço de saúde. Essa conduta é diferente nos casos em que o indivíduo está inserido em programa específico para o tema.
De toda forma, precisamos lembrar que tratar sempre custa mais que prevenir, tanto para o sistema de saúde quanto para o paciente. Ou seja, hábitos de vida saudáveis e acompanhamento médico adequado são primordiais.