Sempre que falamos sobre a Síndrome do Intestino Irritável, procuramos atualizar nossos leitores das novidades e rever abordagens comuns que verificamos em nossa clínica. O tema de hoje foi inspirado em casos de uso indiscriminado de probióticos, com intuito de levar bactérias do “bem” para nosso microbioma.
Relembre o que é Síndrome do Intestino Irritável
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma desordem da função intestinal que associa dor abdominal com alterações do hábito do intestino (diarreia, constipação, flatulência).
É um problema muito frequente que atinge até 5% da população geral e não tem uma causa orgânica detectável. Sua origem é multifatorial e está associada a:
Questões do eixo intestino-cérebro
Microbioma
Fatores ambientais
Hábitos alimentares
Transtornos do humor
Como não é considerada uma doença orgânica, muitos pacientes sofrem com estigmas de que o problema é da própria “cabeça” ou que a culpa está apenas na alimentação. Mas, na verdade, a SII é uma doença da qual muito pouco se sabe e que cada vez mais se mostra um desafio complexo, que deve ser abordado de maneira multifatorial.
Algumas abordagens da Síndrome do Intestino Irritável
Já pudemos discutir abordagens da Síndrome do Intestino Irritável em vários textos que produzimos nos últimos anos aqui no blog. Por exemplo, pudemos ver resultados positivos com:
Mudanças alimentares – alimentos “proibidos” e vegetais que dão gases
Uso de probióticos e prebióticos
Hoje vamos tentar identificar o que há de novas evidências e melhores escolhas de probióticos no tratamento da Síndrome do Intestino Irritável e, para tanto, vamos nos basear em um estudo de atualização publicado em novembro de 2023 na Inglaterra e que analisou toda a literatura disponível sobre o tema.
O que são os probióticos?
Os probióticos são definidos como microrganismos que, quando administrados em doses adequadas, podem conferir benefícios à saúde do hospedeiro.
Na prática clínica, temos observado um uso indiscriminado de probióticos, por longos períodos e sem nenhum tipo de embasamento científico robusto.
A indústria farmacêutica viu nisso uma oportunidade, e as marcas de probióticos estão inundando o mercado, cada qual prometendo milagres para a flora intestinal. E no meio disso, fica o paciente, muitas vezes sem saber o que fazer.
Quais as evidências científicas sobre probióticos?
A análise dos pesquisadores demonstrou pouca certeza sobre vários probióticos e possíveis melhoras da distensão abdominal, dor ou alteração da evacuação dos pacientes com SII.
O uso de cepas de Escherichia sp. e Lactobacilos aparentemente está associado ao alívio dos sintomas globais, mas apenas em alguns pacientes. Já no caso das pessoas com síndrome e constipação, não foram encontrados resultados animadores.
Probióticos são “um sonho despedaçado”?
Não, aparentemente, uso de probióticos que contenham lactobacilos e bacilos revelam melhora importante dos sintomas em pacientes com Síndrome do Intestino Irritável com padrão evacuatório associado a diarreia.
Por que a “moda” dos probióticos?
Você deve estar se perguntando: por que todo mundo usa probióticos, então?
Bem, várias razões estão associadas a isto, por exemplo:
Pressão da mídia: há muita propaganda sobre os benefícios de ter um microbioma equilibrado. Vender a ideia de que ingerir “bactérias do bem” vai ajudar a equilibrar a flora leva a uma grande sensação de segurança, mesmo sem provas.
Falta de conhecimento: é mais fácil indicar o uso do que procurar a real importância do probiótico em cada caso.
Mal não faz: muita gente acaba utilizando mesmo sem ter comprovação porque não há efeito colateral na ingestão de probióticos.
Estudos de baixa qualidade: muitos pesquisadores chegam a conclusão dos benefícios do uso de probióticos com base nos resultados em poucos casos estudados e muitas vezes não é possível reproduzi-los em outras situações.
O que podemos concluir?
Nada é definitivo e novos estudos sempre estão sendo desenhados para identificar fatores benéficos dos probióticos e outras abordagens para a Síndrome do Intestino Irritável. Mas não podemos nos deixar levar pela pressão da indústria e por modismos nutricionais, sem procurar a real evidência daquilo que prescrevemos.
O artigo em que esse texto se baseou analisou os resultados de 82 estudos científicos e mais de 10 mil pacientes acompanhados, e o que encontramos são poucas certezas.
Aparentemente, alguns pacientes melhoram com uso de probióticos no tratamento da Síndrome do Intestino Irritável, mas não há recomendações específicas de um tipo ou de associações que tenham eficácia efetiva para todos.
Cada caso é um caso, cada pessoa é única e deve ser tratada como tal.
Felicidade!
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