Não há um só dia de atendimento em nossa clínica em que a palavra “Sene” não seja utilizada. Essa planta e medicações com seu princípio ativo estão tão disseminadas na sociedade, que muitos pacientes com prisão de ventre a consideram uma “ajudinha” para o intestino lento.
Como a população brasileira tem uma ligação muito forte com suas origens rurais, os ingredientes que têm como origem a natureza, como “laxantes naturais”, são considerados inócuos. Mas isso nem sempre é verdade.
Pelo contrário, quando mal indicados ou utilizados de maneira incorreta, os produtos fitoterápicos (derivados das plantas) podem ter efeitos colaterais graves e causar sérias consequências ao usuário desavisado.
Portanto, é importante sabermos o que há de verdade na indicação da Sene e nos potenciais riscos de sua utilização para tratamento da constipação, a popularmente conhecida prisão de ventre.
O que é considerado prisão de ventre?
Em geral, consideramos a pessoa constipada quando:
Tem dificuldade de expulsão do bolo fecal;
Evacua menos de 3 vezes na semana;
Não se sente satisfeita com o volume eliminado (isto é, sensação de que havia mais alguma coisa para sair);
Fezes mal formadas com ressecamento e expulsão de bolinhas;
Necessidade de auxílio manual para se aliviar.
Uma parcela significativa da população tem dificuldade de evacuar de maneira satisfatória e vai precisar de ajuda. Não necessariamente estamos falando de uso de medicações.
A grande maioria das pessoas consegue melhorar o hábito intestinal apenas com mudanças de hábitos alimentares e de estilo de vida. Na seção Saúde e Prevenção apresentamos dicas de dieta e cuidados que podem ajudar a evacuar melhor sem a necessidade de medicações.
Laxantes e Sene contra prisão de ventre
O grande problema é que, na verdade, alguns indivíduos podem tentar todo tipo de medida, mas, ainda assim terão dificuldades de evacuar. E, por isso, muitos se valem do uso de medicações.
No Brasil e em várias partes do mundo a compra de laxativos (mais chamados de laxantes) é liberada. Eles estão disponíveis nos corredores das farmácias e, sem a devida orientação médica, muitas pessoas tendem a comprar aqueles que julgam ser mais naturais. É aí que entra a Sene.
Por que as pessoas usam Sene?
O uso de Sene em folhas como chá, frutas ou em formulações farmacológicas é muito difundido, por isso, é importante conhecer um pouco mais sobre esta substância.
Esse laxativo foi estudado para o tratamento da prisão de ventre ao longo de pesquisas de curta duração. A conclusão foi a de que ele tem efeito no alívio dos sintomas, mas não existem estudos bem desenhados, do ponto científico, que atestaram a segurança do seu uso por longos períodos e de maneira constante.
Além disso, na Europa, a Sene não foi recomendada para menores de 12 anos.
Mas é seguro usar a Sene?
Segundo o estudo, um dos principais efeitos colaterais da Sene é a hipersensibilidade do trato gastrointestinal, mas parece haver pouco risco em sua utilização pela maioria dos pacientes.
Houve casos raros de reações mais graves associadas a dosagens excessivas. Porém, essas ocorrências estão mais associadas à utilização fora das especificações dos fabricantes, principalmente quem tem desordens alimentares.
Então, posso usar Sene para tratar prisão de ventre?
A Sene só deve ser usada eventualmente, por uma curta duração, com objetivos específicos. Por exemplo, o tratamento de uma pessoa que ficou com intestino preso de maneira eventual, ou para a preparação durante exames, ou casos específicos quando recomendado pelo seu médico.
Isto é, a Sene ou qualquer laxante natural não deve ser utilizada como tratamento contínuo de pessoas cronicamente constipadas, visto que não existem estudos que corroborem para tal.
Alerta sobre o uso de laxantes
A agência regulatória do Reino Unido, na Europa, sugeriu até que as embalagens dos produtos tivessem seu tamanho diminuído para minimizar a ideia de uso constante desse laxativo.
A Sene é um laxante dito estimulante e tem como mecanismo de atuação a estimular os músculos da parede do intestino para empurrar o bolo fecal de maneira mais rápida pelo trato gastrointestinal.
Ou seja, estamos falando de uma substância que é absorvida e atua forçando o intestino a trabalhar de uma maneira que não é natural. Com isso, além de especialistas ainda não terem estudado adequadamente os efeitos de sua utilização a longo prazo, o paciente corre riscos de efeitos colaterais.
Outro risco é o de tolerância (perda da função com o passar do tempo), em que o intestino para de responder ao seu uso.
Hoje, temos laxativos mais modernos, que não interagem com o intestino ou que apresentam embasamento científico para utilização de maneira contínua e, isso sim, é adequado no tratamento da constipação crônica.
Laxante não emagrece
Outro erro comum entre alguns pacientes é achar que laxante emagrece. Realmente, se você acelera o trânsito intestinal para evitar que o nutriente fique em contato com a mucosa, é possível diminuir o tempo em que o organismo terá para absorvê-lo. A consequência disso é uma eventual perda de peso.
Mas, para dar um efeito real, a limpeza teria que ser contínua, o que geraria problemas sérios como:
Desnutrição;
Falta de vitaminas e minerais;
Desidratação;
Tisco até de morte.
Na maioria das vezes, a descarga evacuatória gerada pelo uso do laxativo eventual somente levará a uma perda de peso pela eliminação do bolo fecal, mas que será reposta pelas próximas alimentações.
Em outras palavras, você verá a perda de peso na balança, mas sua estrutura corporal continuará a mesma.
Assim, fica a dica! Nem tudo que vem da natureza é inócuo ou é livre de contraindicações.
Até semana que vem!