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Pólipos pequenos: operadora de saúde muda regra sobre remoção

Nesta semana, os médicos endoscopistas da cidade de Lavras, em Minas Gerais, foram surpreendidos com uma decisão unilateral de uma operadora de saúde local que decidiu não mais remunerar a remoção de pólipos pequenos, ou melhor, menores que cinco milímetros, realizadas durante os procedimentos de colonoscopia.


Vamos lembrar que este blog sempre foi voltado para a atenção médica e sempre tentamos manter as questões relacionadas ao exercício da medicina de fora das nossas discussões. Porém, essa ação da operadora tem repercussão na saúde de vocês e, portanto, gostaríamos que entendessem como isso acontece.


Qual é a recomendação para remoção de pólipos?

Atualmente, a recomendação mundial para tratamento endoscópico dos pólipos intestinais é a remoção de todos os pólipos identificados durante o exame, com exceção de casos em que as lesões polipoides sejam em número maior do que a possibilidade de remoção durante o exame. Nestes casos, é orientado que sejam removidos alguns para amostragem histológica e determinação de qual tipo se trata.


Ou seja, a operadora de saúde em questão está indo contra essa recomendação e determina que pólipos menores que 5 mm de diâmetro seriam apenas elevações de mucosa, presumivelmente sem risco de transformação neoplásica e consideradas apenas biópsias quando realizadas.


Pólipos pequenos não oferecem risco mesmo?

Não é bem assim! Segundo um artigo publicado pela sociedade Coreana de Coloproctologia em 2005, cerca de 58% dos pólipos menores do que 5 mm removidos em colonoscopia foram identificados com adenomas, lesões benignas que se transformam em câncer com o decorrer com o tempo.


Outro absurdo proposto pela federação a qual essa operadora é filiada seria de que não há sentido em utilização de alças de polipectomia – um recurso em que utilizamos um laço para cortar o pólipo durante o procedimento de colonoscopia.

Exame de colonoscopia é fundamental no diagnóstico do câncer de intestino
Exame de colonoscopia é fundamental no diagnóstico do câncer de intestino

Isso vai totalmente contra o que é preconizado pela Sociedade Europeia de Endoscopia, que recomenda que sempre que um pólipo, mesmo menor do que 5 mm possa ser removido com alça de polipectomia, isso deve ser feito, visto que a qualidade da ressecção seria melhor.


Em outras palavras, a ideia de que esses pólipos possam ser removidos com pinça é um grande erro científico.


Se está tudo errado, por que essa proposta?

A proposta é totalmente econômica, isto é, para impedir que a polipectomia de lesões polipoides pequenas (pólipos pequenos) que seja remunerada. Em outras palavras, a medida gera um gasto 50% menor com honorário médico e o não pagamento de uma alça de polipectomia que é descartável.


Infelizmente, quem determina essas alterações na política das operadoras de saúde não é especialista e visa apenas o lucro da instituição. E o pior é que, ao comercializar seus planos, operadoras vendem a ideia de que todas as despesas médicas estão incluídas.


A verdade é que, cada vez mais, os convênios criam regras internas que restringem a atividade médica e engessam o nosso trabalho.


O que a medida representa para o paciente?

A medida que mencionamos aqui no texto não se aplica ao local em que nós trabalhamos. Portanto, nada muda para os nossos pacientes. De toda forma, abaixo, listo a minha opinião sobre tal determinação.


O médico pode se negar a fazer o procedimento

De acordo com o Código de Ética, o médico pode se negar a trabalhar em locais em que não há condição de exercício adequado da medicina, ou seja, ele pode se negar a realizar o procedimento que considera cientificamente incorreto.


O profissional pode trabalhar de graça (ou no prejuízo)

Outra opção seria realizar o procedimento da maneira correta e não receber por isso e ainda ficar com o prejuízo da utilização da alça de polipectomia. Vocês acham isso justo? Você se sentiria valorizado se não adequadamente remunerado? Acreditamos que não.


O médico pode fazer o que a operadora indica

Em nossa opinião, essa é a pior das opções, ou seja, não remover as lesões consideradas “inofensivas” pelos auditores. Isso gera um risco para a paciente que persiste com uma lesão potencialmente perigosa e terá o intervalo de acompanhamento com uma nova colonoscopia encurtado, o que também gera um custo adicional para o convênio.


Ninguém ganha com essa medida

Resolvemos escrever esse texto sobre esse caso específico de mudança na remoção de pólipos pequenos para esclarecer o que está por trás da atenção médica. Infelizmente, muitas vezes o desejo de realizar a boa prática médica conflita com interesse das operadoras de saúde, e o elo fraco dessa corrente é o médico, que se vê limitado e muitas vezes sem forças para lutar pelo bem-estar do paciente.


É por isso que quando o médico que o acompanha pedir um momento para explicar as limitações de sua prática, escute com atenção. O médico está querendo o seu bem.


Boa semana a todos!

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