Antes de falar sobre uma questão importantíssima em cirurgia, a segurança do paciente, precisamos fazer um reconhecimento: finalmente chegamos ao nosso texto 200 aqui no blog! É muita felicidade e uma realização que só poderia ter acontecido graças a vocês, leitores. São mais de um milhão de visualizações nos posts!
Cada vez mais, podemos reconhecer que conteúdo sério e informativo terá sempre o seu lugar. Conte conosco para que, juntos, continuemos a melhorar cada vez mais esse canal de discussão.
Voltando ao tema de hoje, eu queria falar, de maneira informal, sobre um momento que acredito ser um dos mais importantes de uma cirurgia: o posicionamento e cuidado com o paciente.
Em mais de duas décadas de profissão – isso mesmo, não parece, mas estou envelhecendo (risos) –, pude observar uma mudança no paradigma do início de uma operação. Era muito comum os cirurgiões de alguns anos atrás delegarem os processos relacionados ao posicionamento de um paciente aos membros menos experientes da equipe.
5 pontos essenciais para a segurança do paciente
Vou listar alguns pontos abaixo, para entendermos melhor algumas questões fundamentais para a segurança do paciente em contexto de cirurgia.
1. Confiança
Independente de quantas pessoas estejam dentro de uma sala, o paciente foi referenciado ao cirurgião principal e é a esse profissional que o paciente delegou a condução de sua demanda, seja ela o tratamento de uma doença ou um procedimento estético.
Sinto isso todas as vezes que chego ao bloco. No momento em que o paciente vê o seu médico, a apreensão e medo diminuem demais e isso é emocionante.
2. Explicações
O momento em que a pessoa dá entrada na sala cirúrgica é aquele em que ele entende que aquilo está realmente acontecendo. A cabeça da pessoa está a mil por hora, ela não sabe se vai dar tudo certo, se todo o necessário está disponível e quem é aquele pessoal que está ali.
Esse é o momento para acolher, explicar, esclarecer quaisquer dúvidas de última hora.
3. Conhecer a equipe
Isso é algo que está sendo cada vez mais valorizado. Gosto muito da analogia com um voo de avião. Por exemplo, não é legal quando você entra na aeronave e o piloto e os comissários se apresentam para você?
Também acreditamos nessa conduta e esse contato inicial com cada membro da equipe de enfermagem, instrumentação, cirurgia e anestesiologia é fundamental para a definição de um vínculo entre eles. Afinal de contas, estamos todos juntos na busca do mesmo objetivo.
4. Segurança
Esse ponto é, claro, fundamental, e quanto mais experiente ficamos, menos riscos queremos correr. Por isso, cada detalhe é importante. Hoje temos o auxílio dos protocolos de cirurgia segura propostos pela Organização Mundial da Saúde em que podemos checar vários itens – você já ouviu falar dele?
Quando deixamos para a memória o papel de conferir algo que necessita ser verificado, a chance esquecimento é considerável. Em 2010, foi proposto o desenvolvimento de uma lista a ser checada em cada procedimento, e esse “check list” foi implementado imediatamente por 25 países.
Após a sua implantação, foi observado uma diminuição de complicações em pacientes cirúrgicos em torno de 30% e uma queda na mortalidade de quase 50% e isso se deve a checagens básicas.
O que tem no check list de segurança?
De maneira simplificada, essa lista começa, primeiro, perguntando a identidade do paciente, se ele sabe porque está ali, em caso de cirurgia em membros ou órgãos duplos, de qual lado ele vai operar, se ele sabe qual é o nome do próprio médico...
Depois, seguem as avaliações de monitorização, ocorrências prévias de alergia, risco de sangramento e necessidade de ventilação mecânica.
Então, vem o momento de confirmação, se todos da equipe foram devidamente apresentados, a cirurgia confirmada e todas as etapas esperadas da cirurgia foram conferidas e se há necessidade de antibióticos.
Finalmente, existe a fase de registro em que o profissional da equipe de enfermagem reconfirmam todos os dados, anotam e estes serão assinados pelo cirurgião, anestesista e enfermeira.
A lista faz parte do dia a dia
Ufa, parece cansativo e repetitivo, mas não é. Com o tempo, isso se torna automático e permite que problemas como errar o paciente e operar um membro sadio sejam evitados.
Podemos dividir essa lista de verificação em três fases:
Antes de induzir a anestesia
Antes da primeira incisão
Antes do paciente sair da sala de operações
5. Posicionamento da mesa de operação
Quando o paciente deita em uma maca de cirurgia, é importante lembrar que frequentemente ele será sedado e a posição dele pode ser modificada com a movimentação durante o procedimento.
Então, inicialmente devemos colocá-lo em posição confortável para prevenir lesões e, posteriormente, deve ser realizada a fixação do seu corpo para que ele não caia ou se desloque, podendo se machucar.
Conclusão
Mesmo com todos os cuidados, acidentes podem acontecer, mas, se trabalharmos todos juntos em prol da segurança e adequada orientação dos pacientes, menor a chance de eventos adversos acontecerem.
Mais uma vez, muito obrigado por todo apoio de vocês ao nosso blog e contem sempre conosco para aproximar a prática médica de vocês.
Até mais!
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