O tratamento de hemorroidas depende sempre das particularidades de cada quadro, e isso não seria diferente no caso de pessoas com deficiência.
Pacientes com paraplegia ou tetraplegia apresentam constantes desafios quando se trata de obter qualidade de vida e acessibilidade. Muitas vezes, mesmo a liberdade de ir e vir é impedida pelas características de nossa sociedade, que se esquece da inclusão.
Do ponto de vista médico, esses obstáculos estão presentes, considerando alguns profissionais que, às vezes, não sabem abordar adequadamente os problemas, além de clínicas despreparadas para lidar com as peculiaridades desses pacientes e a diferença dos sintomas que apresentam.
Até um problema aparentemente simples como as hemorroidas pode ter implicações e, por isso, elas demandam uma avaliação muito mais criteriosa para obtenção de resultados positivos.
Abordagem para pacientes com deficiência
Ao longo deste texto, vamos falar sobre pacientes portadores de paraplegia ou tetraplegia, considerando as características de portadores de necessidades especiais (PNE) com lesão da medula espinhal.
Porém, sabemos que esse termo é genérico e envolve outras deficiências. De toda forma, a utilização dessa expressão – ou, mais precisamente, do termo “pessoas com deficiência” – permite maior facilidade de entendimento e identificação desses pacientes.
Diagnóstico de hemorroidas
Uma das primeiras dificuldades de se diagnosticar as hemorroidas nas pessoas com deficiência é devido à perda de sensibilidade local, que dificulta ou impossibilita a expressão de dor. Esse é um sintoma relativamente frequente e, por isso, auxilia no diagnóstico.
Outro traço que precisa ser observado é o hábito intestinal da pessoa. Muitos desses pacientes não têm controle do esfíncter anal e, por isso, evacuam com ajuda de um estímulo digital – mãos –, além de apresentarem constantemente constipação.
Tudo isso exige do médico um cuidado especial na regularização do hábito intestinal e no treino dos pacientes e cuidadores. Isto é, os profissionais precisam ter atenção sobre a proteção do canal anal e com relação ao uso de laxativos que não soltem demais o intestino, mas que também facilitem a dinâmica da evacuação.
Da mesma forma, é necessário que cuidadores e acompanhantes façam uma a avaliação diária da região anal da pessoa com deficiência para, então, poder fornecer informações importantes sobre o problema.
Sintomas gastrointestinais em pessoas com deficiências
As pessoas paraplégicas e tetraplégicas apresentam sintomas de origem no trato gastrointestinal mais frequentemente do que aqueles sem lesões na medula espinhal. Esses sintomas variam entre distensão, dificuldade de expulsão das fezes, incontinência fecal, sangramento, fissuras e hemorroidas.
Já os sintomas das hemorroidas nas pessoas com deficiência incluem ainda:
Sangramento;
Desconforto;
Contraturas musculares (sintoma praticamente restrito aos deficientes com lesão medular);
Exteriorização através do canal.
Alguns pacientes relatam que, mesmo que não sintam a exteriorização, chegam a sonhar que estão com ela, e isso causa intensa perda de qualidade de vida.
Tratamento de hemorroidas para pessoas com deficiência
O tratamento de hemorroidas para pessoas com deficiência deve seguir a mesma rotina que a recomendada para população geral. Em outras palavras, a abordagem deverá incluir:
Melhoria do hábito intestinal, por meio do aumento da ingestão de fibra e hidratação adequada;
Medicações de ação local;
Banhos de assento e flebotônicos orais.
Por outro lado, a decisão sobre o tratamento começa a se tornar mais difícil quando certos procedimentos cirúrgicos são necessários.
É importante lembrar que pessoas com deficiência têm maior frequência de alterações do hábito intestinal, como constipação (fezes endurecidas), incontinência e necessidade de manipulação manual anal.
Isso pode influenciar muito o resultado dos procedimentos e até elevar as chances de complicações. Portanto, esses pacientes devem ser orientados sobre essas possibilidades.
Cirurgia de hemorroidas em pessoas com deficiência
A indicação sobre o melhor procedimento deve ser um resultado da classificação dos mamilos hemorroidários, bem como da experiência do cirurgião e do que o paciente deseja. Ou seja, devemos sempre explicar os resultados de cada técnica, riscos e cuidados.
O importante é que todos os tipos de tratamento de hemorroidas podem ser disponibilizados e somente alguns cuidados devem ser observados, conforme veremos a seguir.
Internação em hospital-dia
Apesar de ser um procedimento em regime de internação em hospital-dia, o contato entre médico e paciente deve ser mantido para que orientações sejam mais facilmente repassadas.
Prevenção da constipação
A constipação deve ser prevenida, e o uso de laxativos pode ser necessário para que haja menor necessidade de toques retais vigorosos para evacuação.
Banhos de assento
Mesmo que a maioria dos pacientes com deficiência com lesão medular não apresente sensibilidade dolorosa local, a analgesia e os banhos de assento com água morna devem ser orientados. Isso contribui para minimizar a ocorrência de espasmos locais, disritmia, hipertensão arterial, sudorese e cefaleia.
Posição
A mudança de posição, com intervalos de 30 minutos, ajudam a minimizar o risco de formação de escaras (feridas) de decúbito, que são resultantes do tempo excessivo na mesma posição.
Urina espontânea
O paciente não poderá receber alta antes de urinar espontaneamente – caso isso faça parte da rotina dele. A retenção urinária pode acontecer em alguns casos e pode levar a sintomas de disreflexia autônoma (falta de controle), muito debilitantes. Nesse caso, o uso de sonda para aliviar a bexiga é indicado.
Transferência do paciente
É importante que a equipe tenha extremo cuidado com a transferência do paciente da mesa cirúrgica para a maca de transporte e da maca para a cama. Isto é, a sensibilidade dolorosa diminuída e os mecanismos de defesa abolidos podem aumentar o risco de lesões inadvertidas e graves.
Experiência médica em pacientes com deficiência
Há diversos estudos que mostram os benefícios do cuidado especializado no tratamento de hemorroidas em pessoas com deficiência.
Em minha experiência, a cirurgia de vários pacientes com paraplegia e tetraplegia significa grande melhora na qualidade de vida, além de índice alto de satisfação e raras ocorrências de complicações.
O cuidado que visa o bem-estar do outro e a prevenção do sofrimento nunca é demais. Vamos juntos!
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